A Procuradoria-Geral da República de Angola apreendeu vários projectos imobiliários nas províncias de Benguela Luanda e Malanje, que – apesar de estarem sob posse privada – foram construídos com recursos da estatal petrolífera Sonangol. A informação foi divulgada pelo porta-voz da PGR, Álvaro João.
Os projectos habitacionais estariam na posse das empresas Prumo – cujo beneficiário é Carlos Gil Cunha, ex-director da Cooperativa Cajueiro – e Rempros, cujo beneficiário é o antigo governador de Benguela, Isaac dos Anjos, que é secretário para o sector produtivo do Presidente João Lourenço desde 2017.
Na gestão de João Lourenço, as semelhanças comportamentais, estratégicas e bélicas, separadas pelo tempo, aproximam-se, todos os dias, do espelho identitário do MPLA (que a todos formatou), parido em 1964, por António Agostinho Neto e, recriado em 2017, por João Manuel Gonçalves Lourenço.
A natureza perversa do “MPLA/vingativo, que assassinou o MPLA/nacionalista e democrático de Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Matias Miguéis e outros, autoritariamente imposta, em 1964, por Agostinho Neto e Lúcio Lara, a ferro, fogo e rios de sangue e, quando se pensava ter essa época dantesca ficado no passado, eis que ressuscita, no máximo esplendor, em 2017, com João Lourenço.
A caça às bruxas é oficial. E mesmo quando não há bruxas, a ordem superior é para inventar bruxas. E, no crivo do desespero, nada passa. Até mesmo a sombra do Presidente começa a assemelhar-se a uma bruxa.
As semelhanças são muitas. Ambos receberam o poder de bandeja, após convite dos antecessores, sem o crivo eleitoral interno, para aferimento das capacidades de liderança, tolerância e democraticidade.
Agostinho Neto pese ser médico, não tinha cultura de líder, tolerância, tão pouco de democraticidade. Houvesse eleições, as hipóteses de perder, eram, seguramente, muitas, pois Viriato da Cruz, Matias Migueis, Mário Pinto de Andrade, Gentil Viana, Daniel Chipenda, detinham acervo intelectual superior…
João Lourenço, historiador escolhido, exclusivamente, por José Eduardo dos Santos, claudicaria, provavelmente, em eleições internas, num confronto com Fernando da Piedade Dias dos Santos, Pitra Neto, Paulo Kassoma, Isaac dos Anjos, Baptista Kussumua ou Manuel Vicente, por iguais argumentos.
Este quadro determina a implantação da teoria da eliminação política, afastamento dos órgãos de direcção, prisão, exílio, confisco de bens móveis e imóveis ou assassinato dos potenciais concorrentes, adversários e opositores, baseado na criação de uma Polícia, Serviços de Segurança e Sistema Judicial, anti-republicanos, todos com métodos apócrifos de actuação.
No actual contexto nota-se, uma transição atribulada e uma liderança sem habilidade para enfrentar o momento, numa clara demonstração de despreparo mascarado com meia dúzia de efémeros e, supostamente, emblemáticos “sound bites” tipo luta contra a corrupção, o nepotismo e a cleptocracia.
A equipa económica escolhida é um verdadeiro é um nado-morto, cujo mérito maior foi a transformação em parque infantil o ministério das Finanças, logo, ambos incapazes de emprestar, um programa blindado e coerente, capaz de enfrentar a crise.
Por outro lado, os métodos musculados e autoritários de João Lourenço, intramuros, dividiram o MPLA como nunca antes e, mesmo os poucos que lhe deram o benefício da dúvida, já se recolheram.
O combate à corrupção, que deveria ser um projecto de moralização da actividade dos agentes públicos, tornou-se numa oferenda ao capital estrangeiro, ao FMI e Banco Mundial, que passarão a controlar as principais riquezas nacionais, através de empresas ocidentais, com a missão de refinar a pobreza e os pobres.
O país está, neste momento, com a soberania hipotecada, podendo, na esquina da história configurar um crime de traição à pátria.
Mas de uma coisa João Lourenço pode orgulhar-se. Conseguiu, por falta de visão estratégica, para tristeza geral, “ressuscitar a desgastada imagem de 38 anos de poder de José Eduardo dos Santos”, colocando-o junto das populações mais pobres, empresários e jovens, como referência nostálgica, do “presidente que tinha os produtos da cesta básica baratos e deixava o seu povo trabalhar e comer… Era corrupto, sim, mas tinha uma melhor visão de país e pacificação”, defende José Malaquias, pastor da Igreja Evangélica.
Neste momento, o principal inimigo de João Lourenço é João Lourenço, pois devido à sua política autoritária conseguiu unir as franjas do MPLA caídas em desgraça, onde a sua aceitação é quase nula e na bancada parlamentar não tem uma consideração de liderança, pese, pelo medo, apoiarem, ainda as suas propostas.
Na oposição não tem pontes e é visto como aquele que impede a livre expressão dos partidos políticos, principalmente, com o arresto das contas bancárias da UNITA, o arresto de uma sede sua no Lobito, por decisão escabrosa do tribunal, a não legalização do PRA-JA poderão ditar um fim indefinido para esta estratégia.
Tudo aponta que João Lourenço conta com a maioria dos juízes do Tribunal Constitucional, que se vêm mostrando, para uma maioria, uma farsa, vergonhosamente cobertos pelo direito.
“Os juízes comportam-se, no tempo do Presidente João Lourenço, como autênticos assassinos partidocratas, manipuladores do direito, da lei, dos costumes e da cultura autóctone, ao negarem aplicar as normas de direito e a Constituição, para satisfazer o chefe, tal como o fizeram de 1933 a 1945, os juízes de Hitler. Uma nódoa”, acusa Manuel Elias, destacado militante da UNITA.
Entretanto, Joaquim Kapango, do MPLA lamenta o futuro, “pois, se tivermos um azar com o camarada presidente, teremos uma verdadeira caça às bruxas pior que a actual, contra o camarada José Eduardo. O ambiente interno é mau, não vale a pena disfarçar, principalmente, com a indicação de miúdos, não confundir com jovens, em todos os órgãos de direcção. Vejam a pouca vergonha na OMA e mesmo no bureau político. A imagem de partido democrático morreu e quem pensa desta forma é perseguido e afastado”, lamenta.
Questionado sobre os juízes e tribunais, foi pragmático: “ Nós temos bons juízes, mas eles são cobertos pelo lodo dos juízes membros da Segurança de Estado, que estão a subverter tudo, como verdadeiros soldados da ditadura, farsantes e responsáveis pela baderna que se vem transformando esta direcção, como se fossemos uma republiqueta de um MPLA, qualquer, diferente daquele que nos orgulhávamos”.
As mentes assassinas não se regeneram. Esperar, que aqueles que se inspiram nos inventores de conflitos, falsos golpes de Estado para, selvática e masoquistamente, assassinar 80 mil cidadãos, sem direito a julgamento justo, imparcial e nos marcos do direito, possam, um dia, mudar e pensar democracia cidadã é o mesmo que acreditar na passagem do elefante pelo buraco da agulha.